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Da intensidade à leveza: Três olhares sobre o abandono

DSC 1842Numa pla­teia mai­o­ri­ta­ri­a­men­te mar­ca­da pelo públi­co jovem, aguar­da­va-se por “Levi­a­no“, no entan­to “Aqua­par­que” e “3 Anos Depois” supe­ram as expec­ta­ti­vas do públi­co presente.

A noi­te de dia 28 come­çou com a cur­ta-metra­gem “Aqua­par­que”, a estreia de Ana Morei­ra enquan­to rea­li­za­do­ra. Com um velho par­que aquá­ti­co como pano de fun­do, ficá­mos a conhe­cer dois jovens que ali se refu­gi­am do mun­do real. Por entre olha­res e silên­ci­os reve­lam os seus mais ínti­mos sen­ti­men­tos, em bre­ves minu­tos que se des­fe­cham de uma for­ma trágica.

Ana Morei­ra mar­cou a cur­ta-metra­gem que se seguiu, mas des­ta vez enquan­to atriz. “3 Anos Depois”, de Mar­co Ama­ral, emer­giu-nos numa atmos­fe­ra den­sa e escu­ra que con­tras­ta com bre­ves momen­tos de calor, um inver­no rigo­ro­so numa casa humilde.

É nes­te ambi­en­te que uma mãe regres­sa, após anos fora e con­fron­ta-se com a mágoa e indi­fe­ren­ça dos que dei­xou para trás.

Mar­co Ama­ral, que mar­cou pre­sen­ça na ses­são, pro­cu­rou explo­rar o con­cei­to de mãe atra­vés de uma pers­pe­ti­va mera­men­te afe­ti­va, colo­can­do a ques­tão, “Quem é a ver­da­dei­ra mãe daque­la cri­an­ça, 3 anos depois? Acres­cen­tou ain­da que o con­cei­to de “fal­ta de aces­so” mar­cou a sua narrativa.

A noi­te ter­mi­nou com o aguar­da­do Levi­a­no, do rea­li­za­dor luso-cana­di­a­no Jus­tin Amo­rim.  No seio de uma abas­ta­da casa algar­via, Jus­tin explo­ra a futi­li­da­de e imo­ra­li­da­de de uma famí­lia cor­rom­pi­da pela fama e pelo dinhei­ro mas aci­ma de tudo pela fal­ta de uma rela­ção estável.

É a par­tir do desa­pa­re­ci­men­to da mãe, que aban­do­na as filhas duran­te um ano, que nos aper­ce­be­mos do papel ful­cral da figu­ra mater­na no equi­lí­brio des­ta famí­lia que vive para as apa­rên­ci­as mas que rapi­da­men­te reve­la a sua fragilidade.

Jus­tin Amo­rim traz-nos uma pers­pe­ti­va fres­ca que se afas­ta do comum fil­me por­tu­guês e se apro­xi­ma da esté­ti­ca nor­te-ame­ri­ca­na, ten­do como gran­de ins­pi­ra­ção as obras de Sofia Cop­po­la. Esta nova pers­pe­ti­va foi mar­ca­da pela aber­tu­ra do rea­li­za­dor, repe­ti­da­men­te elo­gi­a­do pelo elen­co, que pare­ce come­çar a tra­zer ao cine­ma por­tu­guês uma nova era de par­ti­lha e apren­di­za­gem mútua entre rea­li­za­dor e atores.

Nas per­gun­tas e res­pos­tas des­ta­cou-se a refle­xão da atriz Miha­e­la Lupu sobre a peque­nez do meio cine­ma­to­grá­fi­co por­tu­guês que com­pe­le os ato­res a agar­rar qual­quer opor­tu­ni­da­de, aca­ban­do por ter de fazer par­te de pro­je­tos mes­mo que não os rea­li­zem artisticamente.

Aban­do­no, papel mater­no e cri­se de valo­res sobres­sa­em numa noi­te que flu­tu­ou entre o inten­so e o leve, sem nun­ca esque­cer temá­ti­cas rele­van­tes e pro­pen­sas à reflexão.

Caro­li­na Santos

Sai­ba mais na seguin­te liga­ção: Da inten­si­da­de à leve­za: Três olha­res sobre o aban­do­no.