Pelas ruas de uma loucura (des)conhecida

IMG 3330 2Mes­mo estan­do qua­se a che­gar ao fim, o Fes­ti­val Cami­nhos do Cine­ma Por­tu­guês não para de sur­pre­en­der. Des­ta vez, pre­sen­te­ou os seus espe­ta­do­res com uma his­tó­ria que não dei­xou nin­guém indi­fe­ren­te, “Pra­ça Paris”.

A his­tó­ria de Gló­ria, for­te­men­te per­tur­ba­da pelo pas­sa­do que tei­ma em não a dei­xar. Visi­ta todos os dias o irmão, pre­so. Recor­re a uma tera­peu­ta, Cami­la, para con­se­guir lidar melhor com tudo aqui­lo que foi e ain­da é a sua vida. Por­tu­gue­sa no Bra­sil, a ter con­tac­to com a rea­li­da­de daque­las que são as his­tó­ri­as que que­re­mos sem­pre acre­di­tar que não são ver­da­de. Uma fave­la como as conhe­ce­mos. Uma estu­dan­te de psi­co­lo­gia que se envol­ve dema­si­a­do com a his­tó­ria da cli­en­te e fica entre­gue, de for­ma assus­ta­do­ra, ao medo.

De acor­do com Gon­ça­lo Gal­vão Teles, copro­du­tor do fil­me “Pra­ça Paris“, a inten­ção da rea­li­za­do­ra, Lúcia Murat, pas­sa­va por “mos­trar o medo com que as os bra­si­lei­ros vivem e os tem­pos difí­ceis que se avi­zi­nham”. Con­tou que o fil­me estre­ou dois dias antes das elei­ções no Bra­sil acon­te­ce­rem e que, por isso, viram nele uma exce­len­te for­ma de mos­trar como fun­ci­o­nam as coi­sas em tem­pos complicados.

Uma das mais apre­ci­a­das carac­te­rís­ti­cas do tra­ba­lho de Lúcia Murat pren­de-se com o fac­to de a rea­li­za­do­ra ten­tar man­ter sem­pre o máxi­mo de con­tac­to dire­to com as pes­so­as e pro­du­zir com não-ato­res. Esta­be­le­cer uma pro­xi­mi­da­de, de for­ma a “levar o cine­ma até onde ele não exis­te” e por se tra­tar de uma “arte que deve abrir todos os cami­nhos pos­sí­veis”. Enquan­to rotei­ris­ta do fil­me, Lúcia Murat retra­tou na his­tó­ria aque­la que é, para si, a rea­li­da­de atual.

Duran­te a ses­são, sur­giu a dúvi­da da razão que levou à esco­lha do títu­lo. Gon­ça­lo Gal­vão Teles expli­cou que “havia ini­ci­al­men­te uma copro­du­ção entre o Bra­sil e Fran­ça, haven­do assim algu­mas roda­gens em Paris”. Asso­ci­a­do a isto, con­ju­ga­ram no títu­lo “o dese­jo de sair, de pen­sar que as coi­sas podem ser melhores”.

Ana Pau­la, estu­dan­te de psi­co­lo­gia, con­si­de­rou que o fil­me é essen­ci­al por retra­tar tão sub­til a for­ma como um pro­fis­si­o­nal lida com as ques­tões éti­cas, como fun­ci­o­nam as fave­las no Rio de Janei­ro e a for­ma como um tera­peu­ta dige­re as his­tó­ri­as dos paci­en­tes, que aca­bam por pas­sar a ser suas tam­bém. A for­ma como Cami­la lida com Gló­ria e, pos­te­ri­or­men­te, con­si­go mes­ma, espe­lha aqui­lo que é a ten­ta­ti­va de reso­lu­ção de um pro­ble­ma, estan­do den­tro de um cená­rio violento.

Se pudes­se des­cre­ver o fil­me numa só fra­se, Ana Pau­la diria “Como é lidar com a rela­ção tera­peu­ta-cli­en­te num ambi­en­te agres­si­vo, as core­la­ções entre si e a sub­je­ti­vi­da­de de um tera­peu­ta num meio transversal”.

Ana Sofia Neto

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