A Academia, o Estudante e a sua Irreverência

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cDe 1 de Abril a 6 de Maio, o Cen­tro de Estu­dos Cine­ma­to­grá­fi­cos irá exi­bir  diver­sas obras cine­ma­to­grá­fi­cas con­tem­po­râ­ne­as que melhor retra­tam os estu­dan­tes e a sua irre­ve­rên­cia, inse­ri­do no Pro­gra­ma Cul­tu­ral da Quei­ma das Fitas 2014.

O movi­men­to estu­dan­til sem­pre foi pau­ta­do pela irre­ve­rên­cia, boi­co­tes e manifestações.
A agi­ta­ção soci­al da déca­da de 60, as suces­si­vas cri­ses nas uni­ver­si­da­des por­tu­gue­sas mar­ca­ram o rumo do País e des­po­le­ta­ram o ati­vis­mo juve­nil e a sua politização.
O objec­ti­vo des­te Ciclo de Cine­ma é cla­ro, revi­si­tar algu­mas lutas mar­can­tes por par­te dos estu­dan­tes, a intro­du­ção da mulher do mun­do aca­dé­mi­co, a agi­ta­ção estu­dan­til de Maio de 68, em Paris, os anos de con­vul­são estu­dan­til 1962 e 69, em Coim­bra e até às lutas con­tra o con­for­mis­mo da ins­ti­tui­ção esco­lar. Assim, ao lon­go de cin­co sema­nas ire­mos assis­tir a obras cine­ma­to­grá­fi­cas con­tem­po­râ­ne­as e assi­na­lar os 45 anos do 17 de Abril de 1969, dia em que o Pre­si­den­te da Direc­ção Geral da Asso­ci­a­ção Aca­dé­mi­ca de Coim­bra, Alber­to Mar­tins, foi impe­di­do de usar da palavra.

Programação:

Aber­tu­ra do ciclo com um dos fil­mes con­tem­po­râ­ne­os que apre­sen­ta mais refe­rên­ci­as cine­ma­to­grá­fi­cas clás­si­cas quan­to a lutas e revol­tas cul­tu­rais. Mas não são umas lutais quais­quer: são pro­ta­go­ni­za­das por estu­dan­tes, pela cama­da mais jovem da soci­e­da­de euro­peia e sedo­sa por abrir os hori­zon­tes aca­dé­mi­cos, reben­tan­do com os valo­res tra­di­ci­o­nais enrai­za­dos na nos­sa soci­e­da­de. Uma apren­di­za­gem entre os conhe­ci­men­tos euro­peus e ame­ri­ca­nos, numa con­ver­sa aber­ta entre cul­tu­ra e revo­lu­ção ence­ta­da pelos estudantes.

dreamers1 de Abril — Os Sonha­do­res de Ber­nar­do Bertolucci
Títu­lo Ori­gi­nal: The Dreamers
Rea­li­za­ção: Ber­nar­do Bertolucci
Argu­men­to: Gil­bert Adair
Elen­co: Micha­el Pitt, Eva Gre­en, Louis Garrel
Dura­ção: 114’
Ano: 2003
Sinop­se: Os tumul­tos polí­ti­cos ocor­ri­dos em Paris em Maio de 68 são o cená­rio onde decor­re a his­tó­ria de três jovens cine­as­tas. Matthew, um jovem ame­ri­ca­no que vai estu­dar para Paris, tor­na-se ami­go de Theo e Isa­bel­le, dois irmãos fran­ce­ses que par­ti­lham o mes­mo gos­to pelo cinema.
Ao mes­mo tem­po que esta­la a agi­ta­ção estu­dan­til de Maio de 68, os três ami­gos desen­vol­vem uma rela­ção dife­ren­te de tudo o que Matthew algu­ma vez tinha experimentado…
Pen­sa-se que a mai­o­ria dos jovens adul­tos que estu­dam no ensi­no supe­ri­or são alhei­os ao que se pas­sa à sua vol­ta. Em ‘The Edu­ka­tors’ com­pro­va-se que é a par­tir da clas­se estu­dan­til que os ide­ais se come­çam a for­mar, onde o diá­lo­go polí­ti­co come­ça a sur­gir e a luta pelos desíg­ni­os começa.

260x365_519ebb567461d8 de Abril — Os edu­ka­do­res de Hans Weingartner
Títu­lo Ori­gi­nal: Die fet­ten Jah­re sind vorbei
Rea­li­za­ção: Hans Weingartner
Argu­men­to: Hans Wein­gart­ner, Katha­ri­na Held
Elen­co: Burghart Klauß­ner, Dani­el Brühl, Julia Jents­ch, Lau­ra Sch­midt, Oli­ver Bröc­ker, Peer Mar­tiny, Petra Zie­ser, Sebas­ti­an Butz, Sti­pe Erceg
Pro­du­ção: Anto­nin Svo­bo­da, Hans Weingartner
Dura­ção: 126’
Ano: 2004
Sinop­se: Jan (Dani­el Brühl, de Adeus Lênin!), Peter (Sti­pe Erceg) e Jule (Julia Jents­ch) são três ami­gos inse­pa­rá­veis. Jan e Peter divi­dem o mes­mo apar­ta­men­to e uma mili­tân­cia polí­ti­ca bas­tan­te ori­gi­nal. Acre­di­tan­do que é indis­pen­sá­vel assu­mir algu­ma ati­tu­de para mudar o mun­do, os dois rapa­zes fazem bem mais do que par­ti­ci­par de todas as pas­se­a­tas anti­glo­ba­li­za­ção do calen­dá­rio. Clan­des­ti­na­men­te, inva­dem man­sões vazi­as, mudam de lugar todos os móveis e dei­xam atrás um mis­te­ri­o­so bilhe­te: “Seus dias de abun­dân­cia estão con­ta­dos”, assinando‑o como “Os Edu­ka­do­res”. Para­le­la­men­te, Jule enca­ra pri­va­ções finan­cei­ras des­de que bateu seu car­ro no Mer­ce­des de um rica­ço, o empre­sá­rio Har­den­berg (Burghart Klauß­ner), e foi con­de­na­da a res­sar­ci-lo pelo carís­si­mo con­ser­to, o que ela con­si­de­ra uma tre­men­da injustiça.

Base­a­do no famo­so con­to da Prin­ce­sa de Clé­ves, que tam­bém Mano­el de Oli­vei­ra se terá influ­en­ci­a­do em ‘A Car­ta’, esta é uma das obras mais sin­gu­la­res de Hono­ré. Des­ta vez, mos­tra-nos o ambi­en­te estu­dan­til de den­tro, des­de a clas­se pro­fis­si­o­nal dos pro­fes­so­res e a sua influên­cia apai­xo­nan­te no con­tex­to estu­dan­til. Uma obra poé­ti­ca, de influên­cia qua­se oní­ri­ca, de recu­sa e cedên­cia a con­cei­tos tão bási­cos como o amor.

MV5BMTY2MTM0MjMxNF5BMl5BanBnXkFtZTcwOTU0MTAxMw@@._V1_SY317_CR4,0,214,317_22 de Abril — A Bela Junie de Chris­tophe Honoré
Títu­lo Ori­gi­nal: La bel­le personne
Rea­li­za­dor: Chris­tophe Honoré
Dura­ção: 90’
Ano: 2009
Sinop­se: Junie (Léa Sey­doux) é uma garo­ta de 16 anos que se mudou após a mor­te de sua mãe. Ela pas­sa a estu­dar na mes­ma tur­ma que seu pri­mo Matthi­as (Este­ban Car­va­jal-Ale­gria), que a apre­sen­ta aos demais cole­gas. Todos os garo­tos logo dese­jam sair com June, mas ela esco­lhe o mais cala­do de todos, Otto Clè­ves (Gré­goi­re Leprin­ce-Rin­guet). Porém logo Junie des­co­bre o gran­de amor de sua vida: Nemours (Louis Gar­rel), seu pro­fes­sor de italiano.

 

O fute­bol repre­sen­tou um impor­tan­te papel num dos pou­cos gri­tos de revol­ta que con­se­gui­ram esca­par ao lápis azul da censura.
O movi­men­to estu­dan­til e cri­ses aca­dé­mi­cas pelo pon­to de vis­ta dos joga­do­res da Aca­dé­mi­ca e a for­ma como estes con­tri­buí­ram e se envol­ve­ram na luta enquan­to estu­dan­tes e Homens. Assim, os prin­ci­pais des­ta­ques da nar­ra­ti­va são os anos de con­vul­são estu­dan­til 1962 e 69, os quais se com­ple­men­tam com o epi­só­dio de 1974, em que, como con­sequên­cia da revo­lu­ção de 25 de Abril e os seus valo­res con­du­to­res, a Sec­ção de Fute­bol da AAC é extinta.

futebol causas24 de Abril — Fute­bol de Cau­sas de Ricar­do Antu­nes Mar­tins + Mas­ter Ses­si­on: ‘A repre­sen­ta­ção das Cri­ses Aca­dé­mi­cas no Cinema’
Rea­li­za­ção: Ricar­do Antu­nes Martins
Pro­du­tor: Antó­nio Fer­rei­ra e Tathi­a­ni Sacilotto
Direc­ção de Foto­gra­fia: Lee Fuzeta
Músi­ca Ori­gi­nal: Luís Pedro Madeira
Pro­du­ção Exe­cu­ti­va: Antó­nio Ferreira
Che­fe de pro­du­ção: Inês Prazeres
Mon­ta­gem: Lee Fuzeta
Pro­du­to­ra: PERSONA NON GRATA
Ano: 2009
Ori­gem: Portugal
Sinop­se: O regi­me dita­to­ri­al vigen­te em Por­tu­gal, esten­deu-se duran­te gran­de par­te do sécu­lo XX. Coim­bra, como gran­de pólo uni­ver­si­tá­rio, viveu momen­tos de gran­de ten­são e incon­for­mis­mo, nos quais o seu movi­men­to aca­dé­mi­co de gran­de mobi­li­za­ção e agi­ta­ção, aca­ba­ram por desen­ca­de­ar e espo­le­tar soci­al­men­te o espí­ri­to da neces­si­da­de colec­ti­va de fazer cair o regi­me. Um dos prin­ci­pais mei­os de divul­ga­ção e pro­pa­gan­da dos estu­dan­tes e dos ide­ais revo­lu­ci­o­ná­ri­os e rei­vin­di­ca­ti­vos aca­dé­mi­cos resi­diu na sua equi­pa de fute­bol, a Asso­ci­a­ção Aca­dé­mi­ca de Coim­bra, como for­ma de fazer che­gar a men­sa­gem e cons­ci­en­ci­a­li­zar o mai­or núme­ro de pes­so­as. A Aca­dé­mi­ca trans­for­mou-se numa ban­dei­ra viva da luta estu­dan­til e deu voz ao acor­dar de um povo, sen­do o seu ‘toque a reu­nir’. Foi de res­to com o luto aca­dé­mi­co, em ple­na ‘cri­se de 69’, que se viveu o pon­to mais alto da posi­ção de for­ça estu­dan­til com a pre­sen­ça da Aca­dé­mi­ca na final da Taça de Por­tu­gal, na qual os joga­do­res, tam­bém eles estu­dan­tes e par­te acti­va na mili­tân­cia da cau­sa estu­dan­til, ade­ri­ram ao pro­jec­to, tor­nan­do aque­la final no Está­dio Naci­o­nal no mai­or comí­cio de sem­pre con­tra o regi­me. Este docu­men­tá­rio pre­ten­de mos­trar o movi­men­to estu­dan­til e cri­ses aca­dé­mi­cas pelo pon­to de vis­ta dos joga­do­res da Aca­dé­mi­ca e a for­ma como estes con­tri­buí­ram e se envol­ve­ram na luta enquan­to estu­dan­tes e Homens. As figu­ras cen­trais do docu­men­tá­rio serão con­co­mi­tan­te­men­te os diri­gen­tes estu­dan­tis e os joga­do­res da déca­da de 60, direc­ta­men­te envol­vi­dos no processo.

E se as lutas aca­dé­mi­cas tam­bém se pas­sa­rem den­tro de nós? Este é um fil­me que nos mos­tra pri­mor­di­al­men­te dois pila­res de luta: a intro­du­ção da mulher do mun­do aca­dé­mi­co, ao mes­mo tem­po do seu fas­cí­nio pela sua liber­da­de de um mun­do à sua espe­ra. Esta­mos nos anos 1960s, onde a nos­sa pro­ta­go­nis­ta faz tudo para con­se­guir entrar em Oxford. Mas depois, o que será mais impor­tan­te: a vida aca­dé­mi­ca per se, ou a vida cul­tu­ral como um todo?

MV5BMTg4NjgzOTc0MF5BMl5BanBnXkFtZTcwOTc2OTE3Mg@@._V1_SX214_29 de Abril — Edu­ca­ção de Lone Scherfig
Títu­lo Ori­gi­nal: Na Education
Rea­li­za­dor: Lone Scherfig
Argu­men­to: Lynn Barber
Inter­pre­ta­ção: Carey Mul­li­gan, Peter Sars­ga­ard, Alfred Molina
Dura­ção: 100’
Ano: 2009
Sinop­se: Jenny (Carey Mul­li­gan), uma estu­dan­te bri­lhan­te que tem pres­sa de viver a vida adul­ta, conhe­ce David (Peter Sars­ga­ard), um homem ele­gan­te e mais velho. Ele a con­vi­da para conhe­cer o seu mun­do vibran­te, cheio de ami­gos de alta clas­se, clu­be de jazz, e leva Jenny a des­co­brir a pró­pria sexu­a­li­da­de. Será que ela vai dei­xar esse roman­ce atra­pa­lhar os seus pla­nos de estu­dar em Oxford, con­fir­man­do o receio de sua ori­en­ta­do­ra (Emma Thomp­son)? Um fil­me cati­van­te gra­ças à inte­li­gên­cia ao char­me e ao esti­lo da Ingla­ter­ra na déca­da de 1960.

O Ciclo encer­ra com um dos fil­mes mais para­dig­má­ti­cos da déca­da de 80, cri­an­do um enor­me con­sen­so à sua vol­ta. Um pro­fes­sor de lite­ra­tu­ra luta con­tra o con­for­mis­mo da ins­ti­tui­ção esco­lar e pelo inte­res­se dos seus alunos.
“Oh, Cap­tain, my Cap­tain”. São estas as pri­mei­ras pala­vras de Kea­ting os seus alu­nos. Kea­ting entra na pri­mei­ra aula a asso­bi­ar e leva os alu­nos até o cor­re­dor onde diz essas pala­vras inau­gu­rais. Ele tem uma abor­da­gem direc­ta, sem rodei­os. Logo de iní­cio, apre­sen­ta o essen­ci­al da sua men­sa­gem: “Car­pe diem. Apro­vei­tem o dia”.

260x365_519ebdc8a462c6 de Maio — Clu­be dos Poe­tas Mor­tos de Peter Weir
Títu­lo ori­gi­nal: Dead Poets Society
Rea­li­za­dor: Peter Weir.
Pro­du­to­res: Ste­ven Haft, Paul Jun­ger e Tony Thomas.
Pro­du­ção: Tou­chs­to­ne pic­tu­res, Sil­ver Scre­en Part­ners IV, Witt-Tho­mas Production.
Argu­men­to: Tom Shulman
Inter­pre­ta­ção: Ethan Haw­ke, Robert Sean Leo­nard e Robin Williams
Ano: 1989
Ori­gem: Esta­dos Uni­dos da América
Dura­ção: 128’
Sinop­se: Quan­do John Kea­ting é admi­ti­do como novo pro­fes­sor de Inglês num pres­ti­gi­a­do e con­ser­va­dor colé­gio inter­no nor­te-ame­ri­ca­no, na déca­da de 50, os seus méto­dos de ensi­no pou­co con­ven­ci­o­nais irão revo­lu­ci­o­nar as tra­di­ci­o­nais prá­ti­cas cur­ri­cu­la­res. Com o seu talen­to e sabe­do­ria, Kea­ting ins­pi­ra os seus alu­nos a per­se­guir as suas pai­xões indi­vi­du­ais e tor­nar as suas vidas extra­or­di­ná­ri­as. Mas o sui­cí­dio de um dos alu­nos, mem­bro do “clu­be” que orga­ni­za­ram em cola­bo­ra­ção com o pro­fes­sor Kea­ting, vai aba­lar o “clu­be” e os seus mem­bros e obri­gar à iden­ti­fi­ca­ção dos cul­pa­dos. Kea­ting é expul­so da escola…