Crónica do Festival – Parte III

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Ape­sar da pro­pa­gan­da con­trá­ria, mui­ta vezes deri­va­da do medi­a­tis­mo sen­sa­ci­o­na­lis­ta cen­tra­do somen­te nos nome­a­dos aos Ósca­res e seme­lhan­tes suces­sos de bilhe­tei­ra, o cine­ma por­tu­guês de hoje em dia está vivo e de boa saú­de, mar­can­do pre­sen­ça úni­ca no glo­bo cine­ma­to­grá­fi­co, mui­to gra­ças à sua explo­ra­ção da docu­fic­ção. Aliás, Por­tu­gal afir­mou-se como uma nação pio­nei­ra no que toca a esse tipo nar­ra­ti­vo, com “Maria do Mar” de Lei­tão de Bar­ros, uma das pri­mei­ras pro­du­ções des­te sub­gé­ne­ro, ante­ce­den­do clás­si­cos mais notó­ri­os como “A Ter­ra Tre­me” de Luchi­no Vis­con­ti ou “Clo­se-Up” de Abbas Kia­ros­ta­mi. E ape­sar des­se mar­co cine­ma­to­grá­fi­co infe­liz­men­te negli­gen­ci­a­do pela mai­o­ria do públi­co desa­ten­to ao cam­po his­tó­ri­co, é ine­gá­vel como os cine­as­tas por­tu­gue­ses de actu­al­men­te reve­lam uma von­ta­de de res­sus­ci­tar tais temá­ti­cas inter­mi­ten­tes e hip­no­ti­zan­tes entre a rea­li­da­de e a fic­ção, o sonho e a memó­ria. É o caso de Tia­go Sio­pa, cujo novo fil­me “Fan­tas­mas: Cami­nho Lon­go Para Casa” abre o 3º dia do Cami­nhos, sen­do exi­bi­do às 15h no TAGV. Esta nova lon­ga-metra­gem do rea­li­za­dor por­tu­guês apre­sen­ta-se com uma inves­ti­da que par­te do fan­tás­ti­co mas, trans­pon­do ima­gens docu­men­tais cap­ta­das no pas­sa­do para o pre­sen­te, pro­me­te ser igual­men­te uma refle­xão sur­re­al sobre a pas­sa­gem de tes­te­mu­nhos entre vidas e gerações.

Já a vera­ci­da­de e a repre­sen­ta­ção coli­dem num estu­do de per­fil deno­mi­na­do “Vita­li­na Vare­la”, o novo fil­me de Pedro Cos­ta. O rea­li­za­dor acla­ma­do pela crí­ti­ca e prin­ci­pal embai­xa­dor da docu­fic­c­ção cine­ma­to­grá­fi­ca nos dias de hoje regres­sa pois aos Cami­nhos, após ter encon­tra­do no seu últi­mo tri­lho per­cor­ri­do (“Cava­lo Dinhei­ro”, de 2014) a actriz Vita­li­na Vare­la, igual­men­te pere­gri­na na vida real e ago­ra no cine­ma. A dupla cola­bo­ra assim nes­te pro­jec­to bio­grá­fi­co que assen­ta mais no intrín­se­co que no his­tó­ri­co. É tal des­ven­dar entre fac­to e fic­ção que tor­na os fil­mes de Cos­ta tão ape­la­ti­vos ao públi­co inter­na­ci­o­nal, bem além da mes­tria audi­o­vi­su­al que invo­ca cons­tan­te­men­te o eté­reo fan­tas­ma­gó­ri­co. E “Vita­li­na Vare­la” não é excep­ção, pois tem-se reve­la­do mais um suces­so de crí­ti­ca inter­na­ci­o­nal para o rea­li­za­dor por­tu­guês, ten­do sido galar­do­a­do com os mai­o­res lou­vo­res e pré­mi­os no Fes­ti­val de Cine­ma de Locar­no (Sui­ça), no Fes­ti­val de Cine­ma de Chi­ca­go (EUA), no Fes­ti­val de Cine­ma de La Roche-su-Yon (Fran­ça), no Fes­ti­val Inter­na­ci­o­nal de Cine de Mar del Pla­ta (Argen­ti­na) e, bem recen­te­men­te, no Fes­ti­val Inter­na­ci­o­nal de Cine­ma de Gijón (Espa­nha). Igual­men­te lou­va­da tem sido a pres­ta­ção da pro­ta­go­nis­ta titu­lar, assim como a foto­gra­fia de Leo­nar­do Simões, habi­tu­al cola­bo­ra­dor de Pedro Cos­ta des­de o fil­me “Juven­tu­de em Mar­cha”, com o qual “Vita­li­na Vare­la” tem sido apon­ta­do como seque­la temática.

Sai­ba mais na seguin­te liga­ção: Cró­ni­ca do Fes­ti­val – Par­te III.