Amor e o género marcam 8.º dia

MG 0794
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Noi­te escu­ra de sex­ta. No chão da Pra­ça da Repú­bli­ca o tem­po chu­vo­so garan­te um bom núme­ro de poças de água no chão. Nelas a luz refle­te e apon­ta para algo mais gran­di­o­so: o Tea­tro Aca­dé­mi­co de Gil Vicen­te. Lá den­tro não se sen­te a bri­sa inco­mo­da­ti­va­men­te fres­ca que sopra cá fora. Bem pelo con­trá­rio, sen­te-se um quen­te aco­lhe­dor que cola os pre­sen­tes à sua con­for­tá­vel cadei­ra para ver mais uma ses­são notur­na da Sele­ção Cami­nhos. É o oita­vo e penúl­ti­mo dia da 25ª edi­ção do Fes­ti­val Cami­nhos do Cine­ma Português.

Na tela pro­je­tam-se Pur­ple­boy, de Ale­xan­dre Siquei­ra, Flu­tu­ar, de Artur Ser­ra Araú­jo e Gol­pe de Sol de Vicen­te Alves do Ó.

Pur­ple­boy, uma cur­ta-metra­gem ani­ma­da. Que refle­te sobre a ques­tão da iden­ti­da­de de géne­ro. Sere­mos nós pres­si­o­na­dos pela soci­e­da­de para ser­mos algo que não somos? Terá o nos­so nome neces­sa­ri­a­men­te que defi­nir o nos­so géne­ro? São algu­mas das ques­tões que nos levan­te este fil­me de 13 minu­tos, mas com um vas­to con­teú­do e uma men­sa­gem soci­al subjacente.

No final da ses­são, o rea­li­za­dor de Pur­ple­boy, Ale­xan­dre Siquei­ra, usou da pala­vra para des­ta­car os 13 minu­tos que cons­ti­tu­em o resul­ta­do final do fil­me são pro­du­to de um pro­ces­so de 5 anos que decor­reu entre Por­tu­gal, Fran­ça e Bél­gi­ca. A iden­ti­da­de de géne­ro e a metá­fo­ra da cri­an­ça que ger­mi­na de den­tro da ter­ra não eram o pla­no ini­ci­al do fil­me. Escla­re­ceu tam­bém que “o fil­me não é pes­so­al”. Clas­si­fi­ca esta obra como um “fil­me jus­to e hones­to” que repre­sen­ta a “pro­cu­ra pelo reconhecimento”.

Flu­tu­ar, a outra cur­ta da noi­te. A praia é o lugar onde a cha­ma se acen­de. Tal­vez seja mais fácil apa­gá-la do que acen­dê-la, ain­da que antes expe­ri­men­tar seja fun­da­men­tal. Os tons quen­tes mis­tu­ra­dos com o lado obs­cu­ro da noi­te são pro­pí­ci­os a flu­tu­ar. Uma flu­tu­a­ção que dei­xa num meio ter­mo as pai­xões carnais.

Gol­pe de Sol, uma his­tó­ria que, ape­sar de pou­co con­ven­ci­o­nal, não dei­xa de ser de amor. Afi­nal, o que é que é con­ven­ci­o­nal? Como pode o amor enfren­tar-nos ain­da que não este­ja pre­sen­te? Três homens e uma mulher a lida­rem com uma ausên­cia que sen­tem mui­to pre­sen­te. Tal­vez não tão pre­sen­te como dese­ja­ri­am, o que os leva a tor­na­rem-se reféns de si mes­mos. “Por­que é que men­ti­mos tan­to quan­do ama­mos alguém?” A pai­xão con­co­mi­tan­te com o axi­o­ma de que “nin­guém ama sozinho.”

As urnas foram com­ple­men­ta­das com os votos do públi­co rela­ti­vos às obras cine­ma­to­grá­fi­cas exibidas.

Sai­ba mais na seguin­te liga­ção: Amor e o géne­ro mar­cam 8.º dia.