Cerimónia de abertura dos 24 Caminhos: da comédia ao drama

Edgar Pêra apresentou Caminhos MagnétykosNes­ta pri­mei­ra noi­te da 24ª Edi­ção de “Cami­nhos do Cine­ma Por­tu­guês”, o pon­to de encon­tro foi o Tea­tro Aca­dé­mi­co Gil Vicen­te (TAGV). Com as por­tas aber­tas ao públi­co, não demo­rou mui­to até que a mul­ti­dão come­ças­se a con­ver­gir para o que seria o iní­cio de um belo serão. De estu­dan­tes a pro­fis­si­o­nais, dos mais curi­o­sos aos mais expe­ri­en­tes, o fes­ti­val aco­lheu, de bra­ços aber­tos, ciné­fi­los de todas as ida­des. Da mes­ma for­ma, a séti­ma arte viria, como se per­ce­beu pelo ambi­en­te vivi­do, a ser aca­ri­nha­da por todos os seus aman­tes que por cá pas­sa­ram. Aca­ba­da de che­gar à cida­de dos estu­dan­tes, sua velha conhe­ci­da de edi­ções ante­ri­o­res, a magia do cine­ma por­tu­guês vol­tou a fazer-se notar.

Paulo Furtado, Eduardo Brito e Rodrigo Areias

Uma vez na sala de espe­tá­cu­los, o públi­co foi pre­sen­te­a­do com um belo núme­ro de luzes rea­li­za­do por Hika­rium. A car­go de Caro­li­na San­tos e Dio­go Car­va­lho, seguiu-se uma bre­ve apre­sen­ta­ção do Cami­nhos, pré­mi­os e seus apoi­an­tes. Por últi­mo, mas não menos impor­tan­te, o dis­cur­so do dire­tor, Vitor Fer­rei­ra, e do vice-dire­tor Tia­go San­tos. Sem gran­des delon­gas, as pala­vras de ambos fize­ram-se ouvir por uma pla­teia entu­si­as­ma­da. Após agra­de­ci­men­tos aos (mui­tos) apoi­os e algu­mas (for­tes) crí­ti­cas à for­ma como o Fes­ti­val é vis­to pela Câma­ra Muni­ci­pal de Coim­bra, a ses­são por que todos espe­ra­vam pôde final­men­te ter início. 
Os Cami­nhos abri­ram com a cur­ta-metra­gem “Como Fer­nan­do Pes­soa sal­vou Por­tu­gal”, da auto­ria de Eugé­ne Gre­en. Alter­nan­do entre comé­dia e algu­ma rea­li­da­de, o fil­me con­ta a his­tó­ria de Fer­nan­do Pes­soa e da opor­tu­ni­da­de que viria a mudar a sua vida. A recém impor­ta­da bebi­da “Coca-Lou­ca” neces­si­ta­va de um slo­gan. O patrão de Fer­nan­do, conhe­ce­dor das capa­ci­da­des lite­rá­ri­as do empre­ga­do, encarrega‑o de cri­ar a fra­se que faria do pro­du­to um bem mui­to dese­ja­do pelo con­su­mi­dor. Con­tu­do, Pes­soa não con­se­guiu estar à altu­ra da tare­fa e esta aca­bou por recair sobre Álva­ro de Campos.

Teatro Académico de Gil Vicente cheio com os Caminhos

Pri­mei­ro estra­nha-se, depois entra­nha-se” – não havia como falhar. A fra­se foi um suces­so. Porém, nem todos esta­vam satis­fei­tos. O Gover­no de Por­tu­gal acre­di­ta­va tra­tar-se de uma bebi­da do Dia­bo e apres­sou-se a proi­bi-la na nos­sa nação. Com isto, é emi­ti­do um man­da­to de cap­tu­ra para Álva­ro de Cam­pos, tama­nha era a afron­ta ao seu ber­ço. Fer­nan­do Pes­soa, por outro lado, tor­nou-se um herói. Como? Terá de ver o fil­me para descobrir.

A segun­da par­te des­ta ses­são da noi­te con­tou com a apre­sen­ta­ção do fil­me “Cami­nhos Mag­néty­kos”. Base­a­do na obra de Bran­qui­nho da Fon­se­ca, foi Edgar Pêra o res­pon­sá­vel pela adap­ta­ção cine­ma­to­grá­fi­ca. A pre­mis­sa do fil­me é sim­ples. Num futu­ro não mui­to dis­tan­te, está ins­tau­ra­do em Por­tu­gal um gover­no fas­cis­ta, elei­to demo­cra­ti­ca­men­te, que sofre con­tí­nu­os “ata­ques” por par­te de quem se opõe ao regi­me. Edgar Pêra afir­ma ter come­ça­do a pen­sar no fil­me há vári­os anos e acres­cen­ta ain­da que “na altu­ra, a ideia era cri­ar um fil­me de fic­ção-cien­tí­fi­ca”. Con­tu­do, “12 anos depois, com a ascen­são de for­ças fun­da­men­ta­lis­tas pelo mun­do intei­ro, a his­tó­ria é qua­se hiper-realista.” 

Domi­ni­que Pinon, ator fran­cês que inter­pre­ta Ray­mond, a per­so­na­gem prin­ci­pal, afir­ma ter sido um fil­me mui­to difí­cil de repre­sen­tar. Porém, não escon­de a admi­ra­ção que tem pelo rea­li­za­dor. “Se o fil­me foi tão fisi­ca­men­te exi­gen­te, foi devi­do à cri­a­ti­vi­da­de poé­ti­ca que Edgar deu à história”.

Paulo Furtado, Dominique Pinon, Edgar Pêra

Após uma exi­bi­ção que dei­xou o públi­co feliz por ter pas­sa­do a por­ta do TAGV, a equi­pa téc­ni­ca este­ve dis­po­ní­vel para res­pon­der a algu­mas per­gun­tas. O rea­li­za­dor, ao ser ques­ti­o­na­do sobre a men­sa­gem que pre­ten­de pas­sar com o fil­me, rema­tou com “pre­fi­ro antes saber a sua opi­nião, é mais inte­res­san­te”. Num dis­cur­so bem con­se­gui­do, o Edgar Pêra dei­xou uma últi­ma men­sa­gem a todos aque­les que ini­ci­am ago­ra a sua aven­tu­ra por estes cami­nhos: “Fil­mes são ima­gens e sons que des­per­tam sen­sa­ções dife­ren­tes em cada um de nós, a for­ma como nos tocam é indizível”. 

Por: Fran­cis­co Madaíl

Sai­ba mais na seguin­te liga­ção: Ceri­mó­nia de aber­tu­ra dos 24 Cami­nhos: da comé­dia ao dra­ma.