Entre o mito e o real

44271398580 0ccdedcc29 kA 26 de Novem­bro, no ter­cei­ro dia da jor­na­da cine­ma­to­grá­fi­ca, que é o Fes­ti­val dos Cami­nhos do Cine­ma Por­tu­guês, o Tea­tro Aca­dé­mi­co Gil Vicen­te (TAGV) foi a casa das três últi­mas e impac­tan­tes pro­du­ções da noi­te, “Agou­ro“, “Rus­sa” e “Ter­ra Fran­ca“. A sala abriu-se a todos aque­les que qui­ses­sem cul­ti­var o seu gos­to pelo cine­ma, ten­do a pre­sen­ça inci­di­do numa fai­xa etá­ria mais adulta.

Pin­ta­da a óleo sobre o vidro, a ses­são ini­cia com um refle­xo. Dois pri­mos: um ódio mútuo. Numa aldeia per­di­da e caren­te de popu­la­ção, Tadeu, com pou­cos mei­os de sus­ten­to e res­pon­sá­vel pelo pri­mo, inca­paz e depen­den­te, é obri­ga­do a optar. Sal­var o tou­ro repro­du­tor, ani­mal que o sus­ten­ta, ou sal­var o pri­mo, que o atra­pa­lha, é o dile­ma que atra­ves­sa quan­do ambos estão em peri­go de vida sob o rio con­ge­la­do. Um fil­me que põe em con­fron­to a fra­gi­li­da­de e a for­ça do ser huma­no e o que este pode fazer quan­do leva­do ao limi­te. Inten­so. Com­ple­xo. “Agou­ro“, pela men­te de David Dou­tel e Vas­co Sá.

Da aldeia per­di­da ao bair­ro do Alei­xo, no Por­to. Hele­na regres­sa a casa, em pre­cá­ria, depois de algum tem­po. O cená­rio com que se depa­ra é, na sua men­te, angus­ti­an­te. O bair­ro, que outro­ra pau­ta­va pela vida, esta­va ago­ra, e cada vez mais, vazio. Isto, por­que o bair­ro soci­al come­çou a ser demo­li­do, fican­do três, das ori­gi­nais cin­co tor­res. É na voz de Rus­sa que é fei­ta a denún­cia que con­de­na a gen­tri­fi­ca­ção e espe­cu­la­ção imo­bi­liá­ria das cida­des.  Quem a ouve adqui­re uma outra cons­ci­ên­cia, uma outra per­ce­ção; qua­se como ter aces­so aos “dois lados da moe­da”, não con­se­guin­do ficar indi­fe­ren­te. “Rus­sa“, uma his­tó­ria real, tocan­te, trans­mi­ti­da pelas câma­ras de Ricar­do Alves Jr. e João Sala­vi­za, que sen­ti­ram a neces­si­da­de de des­co­brir mais sobre a vida daque­les a quem esta­va a ser penho­ra­do o lar.

A últi­ma cri­a­ção da noi­te dá-nos a conhe­cer a his­tó­ria de Alber­ti­no. Pes­ca­dor, mari­do de Dália, pai de duas filhas e avô. Des­de a roti­na diá­ria da famí­lia, à vida no rio Tejo, a lon­ga-metra­gem, de Leo­nor Teles, espe­lha o que é genui­na­men­te por­tu­guês. O sen­ti­do envol­ven­te, pelo qual é regra­do o fil­me, per­mi­te que nos sin­ta­mos par­te daque­la famí­lia. Dos dra­mas, das pre­o­cu­pa­ções, das inqui­e­ta­ções, à união fami­li­ar. Um ambi­en­te aco­lhe­dor, afá­vel e con­vi­da­ti­vo: “Ter­ra Fran­ca” a ser fran­ca­men­te genuína.

Ana Sofia Neto

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