Os primeiros passos dos criadores do amanhã

DIG2018001G00055 CCP
Foi num ambi­en­te de inti­mi­da­de que foi pos­sí­vel assis­tir à exi­bi­ção de sete ensai­os na ses­são das 17h30 do dia 27 de novem­bro nos Cine­mas NOS do Cen­tro Comer­ci­al Alma Shop­ping. Foi na dife­ren­ça de cada um dos ensai­os que se fez per­ce­ber a impor­tân­cia de mais uma edi­ção dos Cami­nhos do Cine­ma Por­tu­guês (CCP).

Son of a Dan­cer”, de Geor­ges Hazim, foi o pri­mei­ro ensaio exi­bi­do. A nar­ra­ti­va de um jovem de 20 anos que per­deu recen­te­men­te a sua mãe, trou­xe atra­vés de o silên­cio entre o pro­ta­go­nis­ta e o seu pai, a ver­da­dei­ra his­tó­ria de vida da sua pro­ge­ni­to­ra. Dan­ça do ven­tre era a sua ocu­pa­ção. Atra­vés do deta­lhe do apar­ta­men­to, que às escon­di­das do filho ocu­pa­va, deu a conhe­cer pou­co des­ta his­tó­ria que levou o pró­prio jovem a ves­tir-se como igual. Leo­nar­do Mar­ti­nel­li, rea­li­za­dor do segun­do ensaio exi­bi­do teve a ousa­dia de tra­zer à XXIV edi­ção dos CCP um fal­so docu­men­tá­rio. Ao trans­por­tar a audi­ên­cia para um Bra­sil onde as cores foram cor­ta­das, devi­do à cri­se eco­nó­mi­ca e soci­al, é numa crí­ti­ca dis­far­ça­da que o rea­li­za­dor do ensaio “Vidas Cin­zas” trans­mi­te a men­sa­gem de que “a cada mor­te na fave­la, a cada ato de cor­rup­ção, o Rio de Janei­ro per­de uma cor”.

A his­tó­ria de cin­co sobre­vi­ven­tes após a coli­são de um sub­ma­ri­no e um bar­co sue­co é o pri­mei­ro fil­me inqui­e­tan­te da ses­são. Com o tér­mi­no da exi­bi­ção numa nar­ra­ti­va aber­ta, foi com a rea­li­za­ção de Gokhan Kaya, que o acen­der de um cigar­ro numa sala onde o oxi­gé­nio já era escas­so, invo­cou o públi­co para a inter­ro­ga­ção da espe­ran­ça do res­ga­te. “Give me a Ligh­ter” dá nome ao ensaio, que numa pers­pe­ti­va trá­gi­ca traz no seu guião o livro de Vic­tor Hugo, “O últi­mo dia de um con­de­na­do”. Lusia Zhai, auto­ra do ensaio inti­tu­la­do “Obses­si­on” repu­di­ou o públi­co ao nar­rar a his­tó­ria de uma mãe e filha não tinham qual­quer cui­da­do den­tá­rio. Fru­to do amor, a filha, de seu nome Meg, resol­ve fazer jus­ti­ça com as pró­pri­as mãos. A neces­si­da­de de con­quis­tar o rapaz com um sor­ri­so apa­ren­te­men­te per­fei­to, faz com que rea­bra o pas­sa­do para enfren­tar o pre­sen­te com uma nova dentição.

A Lín­gua Por­tu­gue­sa tomou o seu lugar e foi a vez de Gon­ça­lo Via­na tra­zer ao públi­co o sor­ri­so con­fu­so de uma “Aula de Nata­ção”. Tra­zi­do o tema por entre uma con­ver­sa de para­gem de auto­car­ro, foi nuns sofás inven­ta­dos da casa de uma jovem que três senho­ras aca­ba­ram por fazer uma cor­ri­da de 50 bra­ça­das Bruços.

Kos­tan­tin Ale­xan­drov foi o res­pon­sá­vel pelo fil­me mais desas­sos­se­ga­do. “Man of the Veni­ce of the North” trou­xe con­si­go um des­fi­le de moda inter­rom­pi­do pela pre­sen­ça de uma per­so­na­gem mas­ca­ra­da com um com­por­ta­men­to per­tur­ba­dor da tran­qui­li­da­de do momen­to. Será uma crí­ti­ca ao com­por­ta­men­to huma­no pela for­ma como ele se alte­ra quan­do des­co­bre quem está por de trás de uma máscara?

Recep­tor” foi o últi­mo ensaio pro­du­zi­do. Emma­no­el Ximen­des, trou­xe ao ecrã duas per­so­na­gens com­ple­men­ta­res. Um homem com um saco na cabe­ça onde ape­nas os olhos eram visí­veis e um homem ven­ci­do pela ida­de e o can­sa­ço que não tinha olhos que o iden­ti­fi­cas­sem. “Quem és?” foi a per­gun­ta mais repe­ti­da duran­te a gra­va­ção. A crí­ti­ca, tal como o pró­prio ensaio invo­ca, trou­xe con­si­go a dúvi­da de se estar peran­te uma úni­ca per­so­na­gem ou das vivên­ci­as comuns de dois indivíduos.

Os Ensai­os carac­te­ri­zam-se por ser pro­du­zi­dos em con­tex­to aca­dé­mi­co, num espa­ço para todos os rea­li­za­do­res, que, em Por­tu­gal e a nível inter­na­ci­o­nal, ambi­ci­o­nem ser cri­a­do­res de amanhã.

Rita Flo­res

Sai­ba mais na seguin­te liga­ção: Os pri­mei­ros pas­sos dos cri­a­do­res do ama­nhã.