Poesia Concreta a abrir Caminhos

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Trabalho Académico de Ana Marta Marques

A par da pro­gra­ma­ção dos fil­mes a con­cur­so e das ses­sões espe­ci­ais, o Fes­ti­val Cami­nhos do Cine­ma Por­tu­guês tem tido des­de sem­pre o obje­ti­vo de pro­mo­ver as mais dis­tin­tas e auda­zes expe­ri­ên­ci­as cine­ma­to­grá­fi­cas. É nes­sa estei­ra que esta XXV edi­ção do Fes­ti­val tem vin­do a exi­bir, no iní­cio de cada ses­são, um con­jun­to de tra­ba­lhos fíl­mi­cos rea­li­za­dos por alu­nos do 2º ano da licen­ci­a­tu­ra em Design e Mul­ti­mé­dia (FCTUC), que, sob a ori­en­ta­ção dos pro­fes­so­res Paul Hard­man e Nuno Coe­lho, foram con­ce­bi­dos a par­tir de alguns dos tra­ba­lhos mais céle­bres da poe­sia con­cre­ta, tais como “Nas­ce­Mor­re” ou “Beba Coca Cola”, res­pe­ti­va­men­te dos auto­res bra­si­lei­ros Harol­do de Cam­pos e Décio Pig­na­ta­ri, e  ain­da de auto­res por­tu­gue­ses, como é o caso de “Luz”, de Alber­to Pimenta.

O Con­cre­tis­mo é um movi­men­to esté­ti­co-lite­rá­rio que imple­men­ta e subli­nha a fun­ção ver­bi­vo­co­vi­su­al da lin­gua­gem, ou seja, uma asso­ci­a­ção entre ver­bo, voz e com­po­nen­te visu­al. Des­se modo são cri­a­dos obje­tos artís­ti­cos que ape­lam a uma explo­ra­ção da ver­ten­te grá­fi­ca dos sig­nos, bem como a uma inves­ti­ga­ção dos dife­ren­tes mei­os em que estes podem sig­ni­fi­car e movi­men­tar-se. Então, como a pala­vra atua neles simul­ta­ne­a­men­te como poe­sia e como ima­gem em movi­men­to, esta­mos peran­te tex­tos – pois nun­ca dei­xam de o ser – ple­na­men­te cine­má­ti­cos, dado que a sua estru­tu­ra se esta­be­le­ce a par­tir da rela­ção entre as pala­vras, a musi­ca­li­da­de da lín­gua, a visu­a­li­da­de do poe­ma e a har­mo­nia da estru­tu­ra semân­ti­ca, con­ce­ben­do novas pos­si­bi­li­da­des de lei­tu­ra e novas espá­cio-tem­po­ra­li­da­des para o tex­to poético.

Esta situ­a­ção per­mi­te, por­tan­to, com­pre­en­der uma ques­tão impor­tan­te das rela­ções entre o cine­ma e a poe­sia, não tan­to na sua dimen­são mais “meta­fí­si­ca”, mas antes a par­tir da sua mate­ri­a­li­da­de enquan­to lin­gua­gem, já que se tra­tam de tex­tos ple­na­men­te cine­má­ti­cos mes­mo antes de serem fil­mes. Então, estas expe­ri­ên­ci­as con­cre­tas em tor­no do cine­ma são outra for­ma de enten­der o seu dis­po­si­ti­vo, visan­do a pos­si­bi­li­da­de de ler e com­pre­en­der o poe­ma enquan­to se vis­lum­bra uma con­fluên­cia grá­fi­ca e sono­ra den­tro do regi­me da ima­gem em movi­men­to. É cine­ma sem câma­ra, como expli­ca o rea­li­za­dor Júlio Bres­sa­ne, cine­ma que tra­ba­lha dire­ta­men­te a ins­cri­ção na pelí­cu­la, riscando‑a, marcando‑a e manchando‑a com múl­ti­plas téc­ni­cas e formas.

Ten­do em con­ta que é ape­nas atra­vés da par­ti­ci­pa­ção ati­va do leitor/espetador que estes cine­po­e­mas atin­gem a sua ple­na sig­ni­fi­ca­ção e impor­tân­cia, con­vi­da­mos o públi­co a com­pa­re­cer nas ses­sões da XXV edi­ção do Fes­ti­val Cami­nhos do Cine­ma Por­tu­guês e a ler/assistir a estes tra­ba­lhos inovadores.

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